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Protagonismo jovem na produção de leite do Norte de Minas

JOVEM NO CAMPO
ESCRITO POR RICARDO GUIMARÃES, DE MONTES CLAROS
23/08/2023 . SISTEMA FAEMG, SENAR, INAES, FAEMG

Jovens iniciam atividades nos negócios no trabalho de sucessão familiar

Gissele Kauane fica responsável pela coleta do leite na parte da tarde na fazenda da família

A sucessão familiar na casa de Adivaldo Oliveira, produtor rural na cidade de Pai Pedro, já está em curso. Atuando na produção de queijos com uso de leite do próprio rebanho, ele conta diariamente com a ajuda da filha mais velha, a jovem Gissele Kauane Martins Oliveira, de 16 anos, para manter a constância e qualidade do negócio. Atuando sempre no contraturno escolar, ela é a responsável pela ordenha da tarde, garantindo mais de 100 litros de leite por dia para abastecer a fabricação de queijos.

“É importante poder ajudar meus pais a crescer cada dia mais, sei que faço parte deste processo. Desde os 12 anos ajudo eles. É uma honra muito grande poder ajudar. Eu tive o interesse em entrar no curral e participar do processo de ordenha, e meu pai foi me orientando, dando dicas. Hoje fico responsável pela ordenha do turno da tarde e do trato dos animais”, explica a jovem produtora.

Ao lado da vaca Serena, que é a mais querida de Gissele, a jovem mostra grande identificação e facilidade que tem no trato dos afazeres no curral, desde a condução dos animais até o preparo da ordenhadeira, com todos os cuidados tomados para garantir o leite do dia. A família, atendida pelo Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) Bovinocultura de Leite, do Sistema Faemg Senar, produz uma média de 40 queijos por dia, sendo o sustento da casa. 

“Ela sempre mantém a qualidade de trabalho, está atenta à saúde das vacas, acompanha cada uma e me avisa sempre que ocorre alguma mudança de rotina. Acho importante a participação da minha filha no processo produtivo. Precisamos incentivar os mais novos a produzir, porque se todos forem para as cidades quem é que vai produzir alimento? Na minha ausência, eu sei que a produção não vai parar, ela já agiliza tudo”, comenta, orgulhoso, Adivaldo Oliveira.

Com o aval da família, o objetivo de Gissele é seguir na área rural a partir da realização de cursos técnicos e superiores nos próximos anos. “É uma área que gosto muito de atuar. Sou apaixonada pelos animais e a vida na roça. Penso em fazer da minha profissão futura, inclusive, como possibilidade de curso superior”, finaliza a jovem.

Para além da urgência 

Os produtores que atuam na bovinocultura de leite e suas atividades derivadas, como produção de queijos, precisam ter constância. O trabalho precisa ser diário, de domingo a domingo, para garantir a manutenção da qualidade e produtividade. Em Porteirinha, na casa de Beatriz Oliveira Santos, de 15 anos, por pouco a renda da família não foi totalmente prejudicada. O pai da jovem sofreu um acidente, quebrou a perna, e acabou impedido de atuar na atividade por várias semanas. A solução foi caseira - e foi um sucesso. 

Beatriz ao lado do tio, Nilton César, produtor de queijos de Porterinha



“Isso ocorreu quando eu tinha 12 anos. Foi quando decidi ajudar, aprendi a tirar o leite para não perder a produção, porque não tinha quem fizesse o trabalho diário. Eu já era encantada pela roça e sempre ajudava, mas passei a ter maior constância na lida, que é o sustento da nossa família”, explica Beatriz Oliveira. 

Inicialmente, a ordenha era manual, realizada sempre no contraturno escolar. A jovem ficava responsável por sete vacas, todos os dias. Foi o que garantiu a renda da família, que faz a venda do leite para a agroindústria de queijos do tio, o produtor Nilton César. No ano seguinte, com Beatriz mais experiente na atividade, a família conseguiu comprar uma ordenhadeira, e o retorno com a atividade só melhorou. “Hoje chego a administrar 15 vacas na ordenha. O leite vai para a fabricação de queijo do meu tio, ficando tudo em família. Tiro, em média, de 50 a 100 litros de leite por dia”, revela a jovem. 

Já totalmente fincada na atividade rural, a jovem produtora tem buscado desde já novos conhecimentos. Ela é figura constante, junto ao tio, em eventos técnicos do Sistema Faemg Senar pela região, que é uma importante bacia leiteira e de produção de queijos. “Conhecimento nunca é demais, sempre agregam no dia a dia de trabalho. Conhecer alternativas de alimentação, por exemplo, ajudam a melhorar cada vez mais nossa atividade, para poder sempre crescer. Claramente vou ter muito retorno”, afirma Beatriz Oliveira.

Sucessão para elas

O tema sucessão familiar é um dos mais importantes no gerenciamento dos negócios rurais, sendo um desafio constante atrair e manter os mais jovens na lida e nos desafios diários do campo. Nos últimos meses, o Sistema Faemg Senar tem atuado com núcleos direcionados de trabalho neste sentido, como é o caso da Comissão Faemg Mulher que, entre outros objetivos, percorre o estado com eventos direcionados a valorização e presença das produtoras rurais na sucessão dos negócios no campo. 

“A mulher participou historicamente dos processos produtivos rurais, mas sua presença permanecia discreta. Hoje elas estão sendo qualificadas e preparadas, assumindo a cultura da gestão, entendendo modelo de liderança, com tato e sensibilidade para essa função. A mulher vem tomando sua posição, como produtoras de grandes fazendas, com muita capacitação. Isso só melhora o agronegócio nacional”, pontua a presidente da Comissão, Lilian Laughton.

Lilian lembra ainda que o processo de sucessão familiar deve ser realizado ao longo da atividade, com inserção dos sucessores nas atividades diárias. “Precisa ser planejado com antecedência pelo fundador do negócio, para transmitir valores e a cultura do trabalho, o que vai ajudar a sustentar momentos de crise. Sendo bem feita essa transição, será essencial para o sucesso a longo prazo, preservando o legado familiar e ainda permitindo o crescimento e expansão dos negócios”, finaliza a presidente da Comissão Faemg Mulher.