Uma ferramenta que digitaliza, automatiza e integra totalmente os processos de testagem e monitoramento dos parâmetros de qualidade da água em tempo real. Essa é a solução da Ketos, startup norte-americana que busca capilaridade no mercado brasileiro atendendo produtores rurais, indústrias químicas e companhias que processam alimentos.
Todas essas empresas têm uma característica em comum: o uso da água como recurso-chave para entrega do seu produto final. No Brasil, a startup já atende players do agronegócio do setor frigorífico e de tabaco, além de empresas de saneamento.
Em tempos de mudanças climáticas e clara necessidade de preservação dos recursos naturais do planeta, a solução da startup auxilia no incremento da qualidade de produtos frescos (como hortifrútis e berries) e no monitoramento do descarte de dejetos, algo de grande valia para agroquímicas e frigoríficos.
Por meio de análises de sensores, a startup evita que possíveis contaminantes advindos da atividade produtiva cheguem a rios e lençóis freáticos, causando danos ao meio ambiente e à sociedade.
Segundo o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2021, o consumo de água doce aumentou 6 vezes no último século e a previsão de crescimento é de quase 25% daqui até 2030 — fruto do crescimento populacional, desenvolvimento econômico e alterações no nível de emprego e renda da população. Em paralelo, a qualidade da água vem caindo exponencialmente e o estresse hídrico passou a afetar mais de 2 bilhões de pessoas no planeta.
Demanda por água acelerou nas últimas décadas, principalmente na agricultura (Fonte: Aquastat)
“Nossa tecnologia atende qualquer empresa que use água nas suas instalações. O tamanho, efetivamente, não importa. O importante, sim, é que o cliente veja valor nos dados que geramos e em ter uma operação totalmente automatizada para testar e monitorar a qualidade da água que flui ao longo da sua operação”, diz Greg Slater, vice-presidente de vendas globais da Ketos.
No exterior, os principais clientes da Ketos no agro são produtores de hidropônicos (cultivo em solução aquosa com nutrientes), berries e fazendas verticais. Nesses sistemas, o controle da qualidade da água chega a prover um incremento de 15% na qualidade dos produtos, que vão de alface e tomate a morangos. Em sua última rodada de investimentos, uma Série B, a Ketos captou US$ 30 milhões.
Fim da espera por resultados
Um dos principais públicos da Ketos nos EUA são produtores de hortaliças em estufas e fazendas verticais (Foto: Canva/ ThisIsEngineering/ Pexels)
A solução substitui os métodos tradicionais, que exigem a compra de uma sonda portátil para avaliação do recurso hídrico, ou até mesmo o trabalho manual de coleta de amostras de água para serem enviadas ao laboratório e retornarem com os resultados em 15 a 20 dias. “Nesse meio tempo, os problemas podem ir e vir, e, além do mais, o tomador de decisão age sempre reagindo aos dados do passado”, diz Slater.
O objetivo da Ketos é dar ao gestor da propriedade ou da indústria a chance de atuar de forma ativa frente aos dados obtidos em tempo real e analisar os resultados de suas ações de forma imediata também. Os sensores de campo captam os dados automaticamente e imputam no sistema.
Monitoramento da qualidade da água
O software da Ketos faz a análise de 31 diferentes parâmetros de qualidade da água, que podem ser medidos de forma contínua ou na frequência demandada pelo cliente. Fatores de meio ambiente têm aferição contínua (como temperatura ou total de sólidos dissolvidos), ao passo que a análise de metais pesados, nutrientes e matéria inorgânica podem ter a frequência ajustada, para cada 30 minutos, uma hora ou intervalos maiores.
A multiplicidade de parâmetros atende a cultivos abastecidos por lençóis freáticos, água de rios, subterrâneas ou superficiais. Quando o sistema detecta a presença de contaminantes na fonte hídrica, ele pode emitir um alerta via e-mail ou SMS.
O Ketos Shield centraliza a análise de dados coletados e tem modelo de assinatura mensal
“Nós temos um cliente nos EUA que está puxando água de lençóis freáticos e, por causa da localização do poço e do solo da região, há presença de arsênio na água, o que tem um impacto direto na qualidade e segurança da sua colheita”, conta Steve Shaffer, vice-presidente de marketing na startup. A exposição humana ao arsênio, no caso, é fator de risco para câncer, doenças cutâneas e vasculares.
Escassez na Índia gerou solução com apelo mundial
Hoje, a Ketos tem presença mundial. Está nas Américas, Europa, Oceania e Oriente Médio, chancelando o uso da água por companhias que olham para a qualidade de um dos recursos naturais mais utilizados na indústria e na agricultura.
Meena Sankaran, CEO e co-fundadora da Ketos, viveu na pele o problema da falta d’água, o que despertou o desejo de fundar a startup. Nascida na Índia, em Mumbai, ela via a família percorrer longas distâncias para conseguir um pouco d’água, muitas vezes ainda imprópria para consumo. Chegando em casa, a água era fervida e o desafio de facilitar o acesso à água potável se tornou seu desafio mais do que particular.
Meena Sankaran, CEO e co-fundadora da Ketos
Na Universidade do Texas, em Arlington, nos EUA, trabalhando em Data Centers, ela desenvolveu seu primeiro sistema para automatizar o controle da qualidade da água. Por meio da análises de parâmetros e busca da eficiência de dados em tempo real, trouxe a visão necessária para fundar a Ketos.
O nome da startup é grego e refere-se à orca, o maior golfinho dos oceanos. A referência simboliza o compromisso da fundadora e da empresa com a preservação da vida no planeta e nos sete mares.
*Com edição de Marina Salles