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Produtores da Zona da Mata e Vertentes se preparam para o inverno

CLIMA
ESCRITO POR CARLA ARANTES, JUIZ DE FORA
17/06/2025 . SISTEMA FAEMG, SINDICATOS, SENAR, INAES
Mesmo com previsão de mais chuvas para esse ano, especialistas alertam para o risco de incêndios em pastos e plantações - Fotos: 4º BBMMG

Eram por volta de 9 horas, de uma manhã de julho, quando Paulo Mendes avistou a fumaça no terreno vizinho, na zona rural de São João Del Rei. Em pouco tempo, as chamas se espalharam. O Corpo de Bombeiros foi acionado, mas já não havia mais caminhão disponível naquele momento. O mato seco e, muitas vezes, o descuido das pessoas faziam com que os focos de incêndio se alastrassem pela região. Três militares numa caminhonete e cerca de 20 voluntários se empenharam para apagar as chamas e evitar que o fogo se espalhasse. “A gente apagava de um lado, acendia do outro”, lembra o produtor. Só às 12h do dia seguinte o fogo cessou. Quatro fazendas foram atingidas, um total de 50 hectares queimados. Na propriedade de Paulo, por sorte, a plantação de café não virou cinzas, mas cercas, capim, pés de laranja e de cana-de-açúcar foram destruídos. Um prejuízo estimado entre 20 e 30 mil reais e as lembranças de momentos difíceis “Tem 20 anos que eu mexo com plantação e nunca tinha visto um fogo como aquele”, conta Paulo.

Com o susto, os fazendeiros pensaram em se unir para evitar novos incidentes. Paulo diz que a ideia era montar uma brigada de incêndio e construir uma caixa d'água, mas as chuvas chegaram e levaram com elas as iniciativas preventivas. Neste inverno, vão ter que contar também com a ajuda de São Pedro e, parece, que ele está disposto a cooperar. Pelo menos é o que demonstra a previsão do tempo para os próximos meses nas regiões da Zona da Mata e Campo das Vertentes.

O inverno de 2025 começou oficialmente no dia 20 de junho, às 23h42. Segundo o meteorologista Ruibran dos Reis, o Brasil passou um período sob efeito do fenômeno La Niña, caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico, que traz mais umidade para o continente. Agora, vivemos um período de neutralidade. Com isso, a previsão é de mais chuva neste inverno e menor variação nos termômetros. “A chuva é importante para regularizar a temperatura. Ela não deixa causar aquela grande amplitude térmica. Você não tem temperaturas muito baixas durante a madrugada e altas durante o dia”, explica o pesquisador. E há ainda uma outra vantagem em invernos mais chuvosos, especialmente para os agricultores das regiões de serra. Com temperaturas mais amenas, não há risco para este ano de geadas na região, que podem destruir plantações. Ruibran dos Reis lembra que nos anos de 2020 e 2021, Minas Gerais sofreu com fortes quedas de temperatura e tempo seco, que causaram a chamada Geada Negra - a geada é a formação de gelo sobre as folhas. Na Geada Negra, a temperatura baixa retira água da própria planta, o conteúdo celular congela e as plantas morrem. “Foi uma das piores geadas da história. Desde 1975 não tínhamos Geada Negra em Minas Gerais”, lembra Ruibran.

O pesquisador explica que há ainda outra vantagem em invernos mais chuvosos, especialmente para os agricultores das regiões serranas. Com temperaturas mais amenas, não há risco de geadas para este ano nestas áreas, o que poderia destruir as plantações. Ruibran lembra que nos anos de 2020 e 2021, Minas Gerais sofreu com fortes quedas de temperatura e tempo seco, que causaram a chamada Geada Negra, quando a temperatura baixa retira água da própria planta, as seivas congelam e as plantas morrem. “Foi uma das piores geadas da história. Desde 1975 não tínhamos Geada Negra em Minas Gerais”, lembra Ruibran.

Bombeiros alertam para o risco de incêndios

A pedido do Sistema Faemg Senar, o 4º Batalhão de Bombeiros Militares de Minas Gerais fez um levantamento do número de ocorrências de incêndios em vegetação no inverno de 2024. Foram registradas 2.580 ocorrências na Zona da Mata e Campo das Vertentes. Destas, 834 foram em pastos e 166 em áreas rurais não protegidas. O tenente do Corpo de Bombeiros João Victor alerta que, na maioria dos casos, o fogo é utilizado para limpar o terreno e acaba fugindo do controle. A recomendação é não utilizar essa técnica. “Primeiro porque reduz a qualidade do solo, já que elimina a microbiota e, a longo prazo, diminui a fertilidade do solo, o que vai trazer prejuízos para o agricultor, além de causar a redução da biodiversidade na região, porque mata insetos, répteis, roedores causando o desequilíbrio da cadeia alimentar daquele ecossistema”, explica. Outro ponto importante é se atentar para a localização do terreno. Se o fogo chegar a florestas ou áreas de preservação permanente, o autor pode responder por crime ambiental, com pena de até quatro anos de prisão e multa.

Uma forma de prevenir que o fogo de outra propriedade chegue até um terreno é fazendo o aceiro. O tenente João Victor recomenda que a limpeza com roçadeira ou capina seja feita ao longo de todo o limite da área, numa largura de duas vezes e meia o tamanho da vegetação. Por exemplo, se o mato ao redor tem um metro de altura, a largura do aceiro deve ser de 2,5m. Mas se, ainda assim, o fogo atingir a propriedade, o ideal, segundo o militar, é não tentar apagar as chamas sem o devido treinamento e equipamento. “É uma atitude muito perigosa, a gente teve registros de duas mortes na região de pessoas combatendo incêndio em vegetação. Parece simples, mas é desgastante, exige preparo físico e é imprevisível. O fogo muda de comportamento com muita facilidade, principalmente no período de estiagem, com mato seco e ventos fortes”, alerta o militar.

O Sistema Faemg Senar, por meio dos Sindicatos de Produtores Rurais, oferece cursos de brigadistas orgânicos e florestais, em níveis básico e complementar. Esses cursos visam capacitar pessoas para atuar na prevenção e combate a incêndios, além de promover a segurança em propriedades rurais. Contudo é sempre importante lembrar: assim que o incêndio for detectado, entre em contato com os bombeiros pelo 193. Quanto mais rápido as chamas forem controladas, menor o risco de prejuízos e acidentes fatais.