
O Sistema Faemg Senar organizará uma caravana com cerca de 60 produtores para participar, no dia 3 de dezembro, de uma nova audiência pública em Brasília, requerida pela deputada federal Ana Paula Leão. A mobilização foi definida após a live especial sobre a crise do leite realizada na última quinta-feira dia 27. A caravana tem como objetivo pressionar o Governo Federal diante do agravamento da concorrência com o leite em pó importado.
“Não adianta ações impulsivas. É hora de inteligência, união e presença política para que o governo entenda a gravidade e o quanto essa situação prejudica os produtores de leite.” afirmou Antônio de Salvo, com a convicção de que a mobilização tem o poder de transformar com estratégia e apoio político.
Durante o encontro online, foram apresentados dados que reforçam a urgência das ações: enquanto a produção brasileira cresceu 10%, o consumo doméstico aumentou apenas 2%, e as importações dispararam 7%. Na Europa, por exemplo, o leite chega a custar o equivalente a R$ 2,34, preço que torna mais atraente a importação de leite em pó.
A deputada federal Ana Paula Leão enfatizou o caráter coletivo da mobilização. “Nós precisamos fazer alguma coisa. Será uma reunião ordeira, onde todos terão voz, e vamos sair dali com encaminhamentos reais. Juntos, somos mais fortes, e a participação dos produtores seja presencial ou online, é essencial para conquistar uma solução rápida.”
A reunião também contou com a participação do secretário de estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Thales Fernandes, do presidente da Comissão Técnica de Pecuária de Leite, Jônadan Ma, e do assessor técnico da CNA, Guilherme Dias. Os representantes destacaram a importância da união entre produtores, entidades e governos estaduais, defenderam a ampliação do apoio político, reforçaram o papel do processo antidumping nas ações do setor e ressaltaram que todas as iniciativas seguem rigorosamente amparadas pela legislação.
Histórico: o que já foi feito com o “Minas Grita pelo Leite”
Esta não é a primeira mobilização do porte que busca alertar para a crise no setor leiteiro. Em março de 2024, o movimento “Minas Grita pelo Leite” reuniu mais de 7.000 produtores rurais, além de representantes de sindicatos, cooperativas e autoridades políticas, no auditório do Expominas, em Belo Horizonte.
Na ocasião, foi assinado um manifesto com uma série de reivindicações: a suspensão imediata das importações subsidiadas de leite em pó da Argentina e do Uruguai; a adoção de medidas compensatórias para os produtores nacionais; renegociação das dívidas dos produtores de leite; inserção permanente do leite nos programas sociais do governo; e a ampliação da fiscalização no âmbito do Decreto 11.732/2023.
Linha do Tempo da Crise do Leite no Brasil
1994 – Plano Real
• Valorização do Real barateia produtos importados.
• Início da pressão sobre o leite nacional.
1995 – O pico das importações
• Importações chegam ao recorde histórico: 19,4% da produção nacional.
1995–1999 – Mercosul e TEC
• Entram em vigor as tarifas externas comuns (TEC) de 14% a 16% para lácteos.
2001 – Dumping comprovado
• Brasil confirma dumping da UE e Nova Zelândia no leite em pó.
• Aplicação de tarifas adicionais de 3,9% e 14,8%.
2008–2010 – Acordos com a Argentina
• Firmados acordos de cotas para controlar importações mensais.
• Renovados até 2018.
2009 – TEC elevada
• Tarifa sobe para 28% diante do aumento das importações.
2017 – Novo pico crítico
• Importações atingem 3,2 milhões t equivalentes.
2022 – Crise de custos
• Insumos sobem globalmente.
• Importações do Mercosul ultrapassam 105 milhões de litros/mês.
2023–2024 – Recordes absolutos
• 2,18 bi (2023) e 2,28 bi (2024) de litros importados.
• 97% vindos de Argentina e Uruguai.
Março/2024 – “Minas Grita Pelo Leite”
• Maior mobilização do setor: mais de 7 mil produtores.
• Início formal dos estudos sobre dumping do Mercosul.
Dezembro/2024 – Investigação aberta
• MDIC inicia processo antidumping, com prazo até junho de 2026.
Agosto/2025 – Mudança na metodologia
• MDIC passa a comparar apenas leite em pó importado x nacional.
• Importações sobem 28% em setembro.
• Preço ao produtor desaba.
Outubro–Novembro/2025 – Reação do setor
• CNA apresenta novas provas.
• Faemg participa de reunião com FPA e autoridades federais.
• Três audiências públicas já realizadas.
Dezembro/2025 – Próxima audiência
• Setor pressiona por retomada do antidumping e medidas emergenciais.