Conviver com a restrição alimentar, devido à intolerância a certos tipos de produtos ou mesmo por conta de alergias, é desafiador. Essa é a realidade da arquiteta Fabrícia Rodrigues Costa, de 38 anos. Diagnosticada com intolerância a lactose e glúten, ela nem sempre acha produtos prontos ou matéria prima onde mora, Jequitaí. “Tenho que ir a Montes Claros [distante cerca de 100 km] comprar algo pronto e específico porque os ingredientes eu não achava aqui. Isso limita muito as receitas”. Foi pensando em situações como a vivenciada por Fabrícia e com o objetivo de apresentar novas perspectivas para uma alimentação mais inclusiva e saudável que o Sistema FAEMG/SENAR/INAES, através do Sindicato dos Produtores Rurais, levou pela primeira vez o curso de Produção Artesanal de Alimentos sem Glúten, Lactose e Açúcares para a cidade do Norte de Minas.
Doze pessoas participaram do treinamento, respeitando todas as normas de combate à covid-19. O curso ensina a preparar alimentos saudáveis, de olho na valorização regional e também oferecendo alternativas economicamente viáveis aos participantes. “As pessoas têm muita dificuldade de se alimentar quando tem que excluir algo da rotina, especialmente quando é algo comum, como é o caso do glúten. Então, colocam muitas barreiras para manter uma dieta correta, seja pelo valor dos produtos específicos ou por serem de cidades menores e não acharem itens satisfatórios. Este curso visa quebrar este pré-conceito e abrir o leque de opções. Não precisa deixar de comer, só modificar o hábito”, explicou a nutricionista e instrutora do curso, Keila Danielly Morais Silva.
Durante o curso, foi proposto que as receitas usassem sempre ingredientes do dia a dia, que existem na cidade ou no meio rural, e que podem ser produzidos artesanalmente. O resultado foi a produção de pizzas a bolos, tudo sem glúten, lactose ou açúcar. “Facilitou, e muito, a minha vida. Tudo ficou perfeito, excelente. Usamos o leite de inhame, por exemplo, que eu não imaginava que ficaria tão bom. Fizemos torta de legumes, farinha de arroz, entre outros”, contou Fabrícia.
A programação também atraiu olhares de empreendedores locais. Caso da Jakeline Alves de Souza, que é mobilizadora do Sindicato e tem uma pequena empresa de doces para festas. Para ela, a união da teoria e da prática, marcas do SENAR MINAS, vão ajudar os moradores de Jequitaí. “Nessa turma, havia várias pessoas com restrições alimentares. Vimos na prática que, com os produtos que temos em casa, é possível suprir essa necessidade. Esperamos mudar este olhar para uma alimentação mais rica, usando nossos produtos nativos”.
“Sabemos que a região tem um público carente. Então, vamos aproveitar o que está no quintal, reduzindo custos e mantendo a saúde. E isso também vai valorizar o produto regional, a riqueza e cultura local”, destacou Keila Danielly.